North America Taiko Conference - Terceiro dia

No café da manhã do terceiro dia da conferência, conhecemos Mercedes do grupo Buenos Aires Taiko da Argentina. Encontramos também com Aoi Hayashi do grupo Yamabuki de Suzano. Acredto que do Brasil somente nós 3 participamos da conferência e da america latina nós 4.


Dividimos os estudos, eu pesquisando o curso de Odaiko de Tiffany Tamaribuchi (foto 1) e a Mitchan com Saburo Mochizuki que ensinou Kabuki bayashi e Matsuri bayashi. Não foi nada de novo para nós, pois são nossas especialidades e o curso era introdutório. Tiffany como eu, foi uma das poucas estrangeiras a ser convidada a participar em solo no Odaiko do Concurso Internacional de Taiko em Tokyo (em 10 anos, dos 100 participantes teve um total de 5 estrangeiros; 3 dos EUA, 1 do Brasil e 1 de Taiwan). Como somos deshi da escola Mochizuki de Nagauta, sentimos nos em casa com o workshop de Saburo, que é professor do Tokyo Geijutsu Daigaku.
foto 1
Ganhei um poema escrito por Tanaka-sensei (foto 2) que significa "a felicidade de reencontrar um amigo de longe". Ele me trata como um filho apesar de não ter estudado com ele. Há 4 anos atrás quando veio ao Brasil, solicitou a Mitchan que cuidasse de mim por ele. Não há palavras que explique a paixão que sentimos um pelo outro e a cada despedida uma tristeza.
foto 2
No periodo da tarde fiz um workshop com Kaoru Watanabe e a Mitchan com Yoko Fujimoto, respectivamente ex-membro e membro do grupo Kodo. Simplesmente sensacional !! Ficamos de viabilizar a vinda dele ao Brasil. Aguardem !!


Na janta continuamos a discussão dos aspectos discriminatórios dos asiáticos na américa do norte com Nozomi e Shanna. Chegamos ao tema sobre o nosso nome. Nozomi se chama Cinthia como nome de batismo, um nome de "branco" de origem grega, conta ela. Ela decidiu afirmar o uso de seu nome japonês aos 40 anos, fazendo o possível para abolir o seu nome "estrangeiro". Hoje só o apresenta quando é necessário como em um documento de identidade. Comentei com ela que eu não tenho um nome brasileiro, mas todas as minhas irmãs tem. Lembro-me vagamente da explicação do motivo que meu pai resolveu me dar um nome somente japonês, mas não sei o verdadeiro sentimento, pois o perdi aos 11 anos. Achei que fosse porque ele quisesse que eu, como único homem da família, mantivesse as raízes japonesas, mas a Nozomi me contou a sua versão. O avô dela era um issei que imigrou nos EUA, mas que diferentemente dos outros isseis, falava bem o inglês. Na época, os imigrantes eram proibidos de falar em japonês em público e para não ter problemas, davam os nomes americanos aos seus filhos (problemas bobos, mas incovenientes que tanto Nozomi como eu temos que enfrentar, soletrando os nossos nomes quando alguém pergunta como se escreve). O avô estava convicto que deveria para o bem da família, dar um nome americano aos filhos, mas que dos 8 filhos, só os 2 últimos não ganharam o nome americano. Analisando, ela acha que ele se cansou de concordar com o que os americanos "exigiam", que analisando bem, é uma forma de fazer esquecer as nossas raízes. Ela pergunta, "eu tenho cara de Cinthia ?", apontando para a sua cara de japonesa. 


Enfim, destes e outros fatores que a sociedade americana estava tentando oprimir, nasceu uma esquerda. O Taiko nos EUA que estava nascendo por volta de 1969, deu forças a esta esquerda para que não esquecessem de suas raízes. PJ e Roy Hirabayashi, coordenadores do San José Taiko, ganharam uma condecoração antes de ontem da Sociedade Japonesa pelos seus esforços em manter um curso de Taiko, numa época onde o governo proibia estes estudos (ou não dava opção de estudar uma cultura estrangeira, a não ser a européia). Eles fizeram isso, porque o Taiko era o alicerce que sustentou não só a esquerda japonesa, mas toda a comunidade asiática do leste americano. Por isso ha tantos grupos nesta região. PJ (foto 3) me convidou para visitá-los na próxima vez que virmos aos EUA para apresentar o Japan Town de San José. Acredito que este bairro seja o orgulho do trabalho deste grupo e certamente vou querer ouvir sua história. O próximo capítulo continua.
foto 3
A noite ainda tivemos as apresentações do grupo de Kenny Endo, Soh Daiko, San Francisco Taiko Dojo e outros pequenos grupos no Teatro da Universidade de Stanford. Após isto, foi realizado no nosso dormitório um matsuri (que viagem !!) com a presença de todos os músicos. Fechamos nos despedindo de Tanaka-sensei, PJ Hirabayashi nos convidando para uma visita menos corrida, um reencontro com a família Asano na semana que vem no Japão, um próximo e provável reencontro com John Paul, que encontramos sempre em situações imprevisíveis (São Paulo, Ilha de Sado, Stanford), Shanna, Nozomi e Mercedes (foto 4).
foto 4 - Mitchan, Mercedes e Nozomi
Fechamos assim nossa participação na conferência em Stanford, partindo ao Japão para novas experiências e histórias.
Carta de Seiichi Tanaka a Setsuo