segunda-feira, 22 de agosto de 2011

North America Taiko Conference - Terceiro dia

No café da manhã do terceiro dia da conferência, conhecemos Mercedes do grupo Buenos Aires Taiko da Argentina. Encontramos também com Aoi Hayashi do grupo Yamabuki de Suzano. Acredto que do Brasil somente nós 3 participamos da conferência e da america latina nós 4.


Dividimos os estudos, eu pesquisando o curso de Odaiko de Tiffany Tamaribuchi (foto 1) e a Mitchan com Saburo Mochizuki que ensinou Kabuki bayashi e Matsuri bayashi. Não foi nada de novo para nós, pois são nossas especialidades e o curso era introdutório. Tiffany como eu, foi uma das poucas estrangeiras a ser convidada a participar em solo no Odaiko do Concurso Internacional de Taiko em Tokyo (em 10 anos, dos 100 participantes teve um total de 5 estrangeiros; 3 dos EUA, 1 do Brasil e 1 de Taiwan). Como somos deshi da escola Mochizuki de Nagauta, sentimos nos em casa com o workshop de Saburo, que é professor do Tokyo Geijutsu Daigaku.
foto 1
Ganhei um poema escrito por Tanaka-sensei (foto 2) que significa "a felicidade de reencontrar um amigo de longe". Ele me trata como um filho apesar de não ter estudado com ele. Há 4 anos atrás quando veio ao Brasil, solicitou a Mitchan que cuidasse de mim por ele. Não há palavras que explique a paixão que sentimos um pelo outro e a cada despedida uma tristeza.
foto 2
No periodo da tarde fiz um workshop com Kaoru Watanabe e a Mitchan com Yoko Fujimoto, respectivamente ex-membro e membro do grupo Kodo. Simplesmente sensacional !! Ficamos de viabilizar a vinda dele ao Brasil. Aguardem !!


Na janta continuamos a discussão dos aspectos discriminatórios dos asiáticos na américa do norte com Nozomi e Shanna. Chegamos ao tema sobre o nosso nome. Nozomi se chama Cinthia como nome de batismo, um nome de "branco" de origem grega, conta ela. Ela decidiu afirmar o uso de seu nome japonês aos 40 anos, fazendo o possível para abolir o seu nome "estrangeiro". Hoje só o apresenta quando é necessário como em um documento de identidade. Comentei com ela que eu não tenho um nome brasileiro, mas todas as minhas irmãs tem. Lembro-me vagamente da explicação do motivo que meu pai resolveu me dar um nome somente japonês, mas não sei o verdadeiro sentimento, pois o perdi aos 11 anos. Achei que fosse porque ele quisesse que eu, como único homem da família, mantivesse as raízes japonesas, mas a Nozomi me contou a sua versão. O avô dela era um issei que imigrou nos EUA, mas que diferentemente dos outros isseis, falava bem o inglês. Na época, os imigrantes eram proibidos de falar em japonês em público e para não ter problemas, davam os nomes americanos aos seus filhos (problemas bobos, mas incovenientes que tanto Nozomi como eu temos que enfrentar, soletrando os nossos nomes quando alguém pergunta como se escreve). O avô estava convicto que deveria para o bem da família, dar um nome americano aos filhos, mas que dos 8 filhos, só os 2 últimos não ganharam o nome americano. Analisando, ela acha que ele se cansou de concordar com o que os americanos "exigiam", que analisando bem, é uma forma de fazer esquecer as nossas raízes. Ela pergunta, "eu tenho cara de Cinthia ?", apontando para a sua cara de japonesa. 


Enfim, destes e outros fatores que a sociedade americana estava tentando oprimir, nasceu uma esquerda. O Taiko nos EUA que estava nascendo por volta de 1969, deu forças a esta esquerda para que não esquecessem de suas raízes. PJ e Roy Hirabayashi, coordenadores do San José Taiko, ganharam uma condecoração antes de ontem da Sociedade Japonesa pelos seus esforços em manter um curso de Taiko, numa época onde o governo proibia estes estudos (ou não dava opção de estudar uma cultura estrangeira, a não ser a européia). Eles fizeram isso, porque o Taiko era o alicerce que sustentou não só a esquerda japonesa, mas toda a comunidade asiática do leste americano. Por isso ha tantos grupos nesta região. PJ (foto 3) me convidou para visitá-los na próxima vez que virmos aos EUA para apresentar o Japan Town de San José. Acredito que este bairro seja o orgulho do trabalho deste grupo e certamente vou querer ouvir sua história. O próximo capítulo continua.
foto 3
A noite ainda tivemos as apresentações do grupo de Kenny Endo, Soh Daiko, San Francisco Taiko Dojo e outros pequenos grupos no Teatro da Universidade de Stanford. Após isto, foi realizado no nosso dormitório um matsuri (que viagem !!) com a presença de todos os músicos. Fechamos nos despedindo de Tanaka-sensei, PJ Hirabayashi nos convidando para uma visita menos corrida, um reencontro com a família Asano na semana que vem no Japão, um próximo e provável reencontro com John Paul, que encontramos sempre em situações imprevisíveis (São Paulo, Ilha de Sado, Stanford), Shanna, Nozomi e Mercedes (foto 4).
foto 4 - Mitchan, Mercedes e Nozomi
Fechamos assim nossa participação na conferência em Stanford, partindo ao Japão para novas experiências e histórias.
Carta de Seiichi Tanaka a Setsuo








11 comentários:

Alina "Kazé" Okita disse...

Oi Sensei! Adorei o blog, vou acompanhando daqui a viagem de vocês! Estou no Brasil hoje, pena que nos desencontramos... deixei um "omiyague" com o Marcelo, cobre dele quando vocês voltarem! :) Beijos pra vc e pra Mitchan!

Julia disse...

Sensei, seu blog está cada vez mais emocionante!!! hehehe Lindo o poema e a letra do Tanaka sensei♥

Anônimo disse...

Ola Kinoshita sensei!
Nossa, esse encontro deve ser muito legal mesmo! Eu conheço o responsável do grupo da Argentina o Bruno Cecconi.Vou acompanhar a sua viagem pelo seu blog. Abraço e td de bom!
Shintaro

Mauro Berimbau disse...

Olá Sensei!
Sobre essa questão do preconceito que vocês vêm discutindo.
Isso me fez pensar esses dias:
Acredito que os descendentes de japoneses que moram nos EUA sofreram mais com isso. Afinal, não faz tanto tempo assim que os países estavam em guerra. Além disso, os americanos estão sempre sobre a sombra de algum "ataque" - depois da 2a guerra, o comunismo, os movimentos de extrema direita e, mais recentemente, o terrorismo. Não concordo com a postura, mas entendo por que há um preconceito maior no país - parece existir um medo de quem é diferente.

Quanto ao Brasil, não sei se há um preconceito dirigido ao oriental em particular, e nem a alguma outra etnia. Nem temos medo de outros povos, pois sempre acreditamos que o Brasil não tem muito a oferecer mesmo (o que não é verdade). Mas acredito que há um desrespeito geral pelo outro e pelo espaço público: o brasileiro não considera o que está pro lado de fora da porta como sua casa! A rua é suja, "as pessoas" são mal educadas, o governo é ruim... Jogamos a culpa no imigrante, mas também no emigrante, no estado, na escola, na mídia... reclamamos muito, raramente nos unimos e nunca colocamos a culpa em nós mesmos.

Pelo menos em São Paulo, tenho a sensação que o oriental (o japonês, especificamente), é bastante respeitado.

Sobre o jovem descendente não ter interesse sobre a própria cultura - não se trata de um conflito de gerações?

Wadaiko Sho disse...

Oi Alina, Julia e Shintaro !! Obrigado pelas mensagens !! Além do que descrevi, aconteceram muito mais coisas que não convém descrever no blog, mas só pelo que descrevi da para ver o quanto concentrado foram os dias. As histórias continuam; obrigado por acompanhar e espero poder com a ajuda de vocês despertar a filosofia do Wadaiko Sho.

Wadaiko Sho disse...

Oi Mauro, eu não tenho condições de responder o motivo do por que sofrem tantas discriminações. É fácil falar que é culpa do imigrante. Após a conferência, no aeroporto de San Francisco, fui comer um hamburguer (acredita que fiquei 3 dias nos EUA sem comer um e fui comer na última hora antes de embarcar ??) e me deparei com uma situação. Um freguês americano pediu um hamburguer e explicou com detalhes como queria que fosse feito. Ele ficou grudado no chapeiro e quando colocou um ingrediente que havia pedido para não colocar começou a gritar com o gerente. Este era um pouco moreno. Numa das frases foi, "PRIMEIRO APRENDE A FALAR EM INGLÊS ANTES DE RESPONDER PARA MIM". Depois deste ir embora e todos nós ficarmos aterrorizados, o gerente comentou conosco em espanhol que os EUA é feito de imigrantes, por que não os aceitam ?
No Brasil, não acredito que haja maldade nas brincadeiras que fazem conosco (na sua maioria) principalmente com o japonês, por termos conquistado um perfil de respeito. Mas brincadeiras como puxar os olhos fazem parte do nosso dia a dia. Eu odeio isso, mas a culpa é nossa de não educar o brasileiro com virtudes corretas. Quando fazemos isso, devolvemos com a mesma moeda, como acontece no trânsito de São Paulo. Achamos que fazendo isso, o cara vai se tocar. Não vejo uma melhora na forma de dirigir, por exemplo. O que precisa ser feito é educar diretamente. É impossível educarmos o Brasil todo. Mas o que eu posso fazer é educar o pessoal que está ao meu lado. No meu caso, eu cobro no Kenshu e no curso do Caritas a filosofia do Wadaiko Sho, pois o nosso propósito é educar um pessoal que tenha intenção de querer melhorar a qualidade de vida. Isto não se consegue somente no intrapessoal, é necessário trabalhar o interpessoal também para vivermos decentemente. Muitos alunos desistem por que não gostam do que eu digo, mas eu quero viver cercado de pessoas que não sejam ignorantes. É utopia no Brasil ?? Eu acho que o Wadaiko Sho está cada vez mais com esta cara.....abs

Anônimo disse...

Olá, Sensei, Mauro, e tudos. Foi muito bom ler tudo isso! Obrigada por compartilhar seus pensamentos e experiências. Ví que deu para aproveitar bastante!

Sinto muito pena de saber o que aconteceu no aeroporto. Infelizmente essas coisas acontecem e são piores em tempos difíceis. Tenho muitos pensamentos sobre isso, mas não dá para escrever aquí. - Elizabeth

Vou acompanhar sua viagem desde aquí. Obrigada por postar.

Wadaiko Sho disse...

Obrigado pela mensagem Elizabeth !! Espero que tenha uma oportunidade de conversarmos sobre isso. bjs

WSSP disse...

Olá Setsuo!!!

Estou curtindo muito estes workshops!!! Pena não poder ter ido, mas não faltarão novas oportunidades!!! Eu sempre acompanho seu blog, mas gosto de ficar "discreto", apenas como observador.

Quanto a questão do preconceito, concordo com as opiniões do Mauro, mas vejo que isto tudo também é uma questão da falta de educação, e não só do racismo em si... Para uma minoria de brasileiros, pelo fato da não ter informações suficientes (aka "ignorância"), não destratam somente outras etnias, mas como a própria. Aqui, não importa se é negro, oriental ou indigena; no momento que o sangue "esquenta", a educação diminui exponencialmente e ai presenciamos o que você vivenciou aí...

Visto que nós somos um povo mais "heterogênio", não temos uma cultura baseada em educação e respeito, mas sim em futebol, carnaval e "jeitinho" brasileiro. Enquanto não nos conscientizarmos que precisamos melhorar este comportamento, TODOS os brasileiros também sofrerão preconceito fora de sua terra natal. Cabe a cada um de nós tornar esta imagem melhor. Não vamos jogar culpa nos políticos, depende somente de NÓS!

Mas por outro lado, quero pensar também que existem muitos brasileiros que, como eu, possam "ajudar" a outras pessoas a encontrarem o real significado da frase "respeito ao próximo".

Abração e boa viagem a vocês!

PS.: este é um dos problemas de comer carne! Faça como eu, não coma carne! Assim, você não passará mais por esta situação!!! ahahahah!! (brincadeira!)

Gambarêshite!!!!! :)

Mozato

Alina "Kazé" Okita disse...

Aqui no Chile, às vezes me chamam de "chinita" (chinesinha), porque para eles todo oriental é chinês. Só que aqui tem pouquíssimos orientais, então geralmente as pessoas vêm falar comigo por curiosidade, eles não veem o oriental com tanto preconceito (isso existe contra outras etnias aqui, como os indígenas ou peruanos). O interesse pela cultura japonesa vem crescendo aqui só agora, tomara que cresça com uma boa dose de respeito também... :)

Wadaiko Sho disse...

Oi Kazé !! Com certeza vocês não sofrerão preconceitos no Chile. Vocês não foram para fazer um trabalho sujo ou não vieram de um país problemático (será ??? hehehe). Obrigado pelo omiyague !!! Depois eu agradeço pessoalmente. bjs

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