sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Japão de 1 à 5 de setembro

Rio Kumano que corre ao lado do templo


2 à 5 de setembro
Fui para a cidade de Shingu na província de Wakayama para comemorar os 120 anos da fundação do templo onde eu morei por um ano em 1992. Encontrei me com o grupo do Brasil  que chegou ao Japão semana passada para esta finalidade e fomos em 2 ônibus fretados. Na verdade, eu fui contra a vontade de minha esposa pois para quem acompanhou a rede de TV NHK no Brasil, viu que um Taifu (tufão) dos grandes estava se aproximando do Japão. Assim, ela preferiu ficar em casa e fui sozinho. Partimos, com o ônibus balançando por causa da forte ventania, vimos as ondas do mar muito agitadas, o rio das cidades bastante alto, mas não ficamos alarmados. Entretanto, ao chegar ao ponto final, fomos informados que por uma diferença de 15 minutos, os veículos que estavam vindo atrás de nós, foram proibidos de continuar a viagem. Com o passar do dia, o rio Kumano que fica ao lado do templo, começou a encher cada vez mais e na manhã seguinte alagou a cidade toda. Como moramos numa parte alta da vila, só o subsolo foi alagado, pois fica ao lado do rio. Ficamos ilhados, ou seja, não podiamos sair e nem as pessoas chegar ao templo. Assim, realizamos a missa somente com as pessoas que estavam no local. Estávamos em aproximadamente 400 pessoas, mas esperava-se a presença de mais de 7000 pessoas. Quem acompanhou o noticiário no Brasil, deve ter visto quanta catástrofe este Taifu trouxe a região, mas nós só tivemos o desconforto de não poder sair e ficar sem o estoque de água. Assim, não pudemos tomar banho, não podiamos usar o banheiro, passamos 2 refeições só com oniguiri (bolinho de arroz) e tsukemono (conservas), ou seja, fizemos o racionamento de água dentro do templo, por não saber quanto tempo ficaríamos ilhados com estas 400 pessoas. Houve várias outras medidas que não convém contar aqui e que contarei pessoalmente a quem me contactar. Assim, deixo a mensagem dada pelo Daikyokaityosan (padre maior de nosso templo).
Ele lembrou que nada é Atarimae (vem ao acaso). Em um Japão onde tudo é bem estruturado, com água, ar condicionado, comida e bebida fácil, sentimos o quanto somos frágeis só com este acontecimento. Ele citou o som forte da correnteza que gritava ao lado do templo, dizendo que em vez de temer, para encararmos como um incentivo. Como estávamos "comemorando" os 120 anos, fez nos conscientizar da dificuldade do início desta construção, onde não haviam o conforto citado acima. Como não havia trens na época, o fundador do templo caminhava para ir até a cidade de Tenri que tem 200 quilômetros de distância. Eu tive a oportunidade de ter esta experiência em 1992 caminhando 40 quilômetros por dia, carregando as barracas e mantimentos nas costas, completando o trajeto em 5 dias. Este "sofrimento" me despertou na época um sentimento de gratidão só de beber água. O cansaço pelo esforço físico, o sofrimento em caminhar montanhas na chuva e no sol, me fez enxergar os valores que estamos tão acostumados no dia a dia, que passam despercebidos. Esta nova experiência em ficar ilhados, a palestra em relembrar que as coisas funcionando bem não é ATARIMAE me fez lembrar a profundidade de sentir a força da vida e a necessidade do trabalho do outro.


Eu ia retornar para casa no dia 4, mas as linhas de trem em ambos os lados da estação de Shingu foram destruidas e levarão semanas para o seu conserto (isso porque o Japão é rapido, imaginem o estrago !!). As 3 estradas principais estão interditadas porque houve desabamento (como dito acima, o caminho é cheio de montanhas). Assim, só consegui voltar para casa de carro no dia 5, após baixar as águas na saída do templo, pelo caminho do mar, driblando as passagens interditadas. Que sufoco !!!
O rio Kumano e a cidade ficaram na mesma altura.
Subiu 8 metros

9 comentários:

André Pimentel disse...

Oi Sensei!!! Estávamos preocupados, pois vemos no noticiário que o Taifu foi bem forte. Apesar dos pesares, ainda bem que deu tudo certo pra vcs.
Abraços!

Julia disse...

わ~~先生!大変でしたね!!!でも、先生たちが無事で何よりです!

Vivendo em Okinawa disse...

que experiência terrível!

André Pereira Lindenberg disse...

Força sempre, olhando como nada vem ao acaso, realmente o destino é ponto de partida... o nosso mar, a nossa água é a mesma, estamos ligados sempre. Muita, muita força Setsou, fortissimo abraço!!

Wadaiko Sho disse...

Oi André, Julia e Anna !! Achei incrível a reação da população em, logo que baixou as águas, colocar as coisas para fora de casa para a limpeza. Sabe quando destruimos um formigueiro e logo em seguida as formigas voltam a construir o ninho ? Eu fiquei imaginando no Brasil o pessoal chorando na entrada de casa esperando a ajuda de alguém. Logicamente tinha gente chorando nos noticiários, mas é porque perderam familiares ou a casa foi totalmente destruída. Adoro este país !!!

Alina "Kazé" Okita disse...

O Japão foi um exemplo para o Chile na questão de reconstrução pós-terremoto... aqui, vilas inteiras ainda estão no chão, e o terremoto foi em fevereiro do ano passado. Depois do terremoto no Japão, sempre se mostravam as imagens das estradas que foram consertadas em poucas semanas, até como forma de pressionar o governo chileno a agilizar as obras. Mas é como você disse, Sensei: tudo depende do esforço coletivo, não dá pra sentar e esperar a ajuda!!
Que bom que o pior do Taifu já passou aí! (e aposto que a Mitchan deu bronca depois, hahaha!)
Abraços!!!

Anônimo disse...

Oi, Mitchan, Sensei
Obrigada por compartilhar suas experiências! Q bom saber q há mais pessoas q pensam na vida como uma experiência positiva - aprender com as situações, respeitar as pessoas. Eu acredito q tudo, absolutamente tudo deve ser aceito como uma grande oportunidade de aprendizado, amadurecimento, evolução. "São as pedras no caminho que nos fazem fortes." Já diz um ensinamento budista q "não existem inimigos/dificuldades, eles são pérolas q encotramos no caminho, são nossos mestres e devemos ser gratos por existirem".
Q o sofrimento de todos seja minimizado e a lição seja aprendida. A natureza nos ensina a humildade ... as vezes à força ...
Lindo o sentimento de gratidão pela água q temos pra beber hoje. Simplicidade e naturalidade, grandes princípios de vida.
Gambarê!!!
abs
:)
Katia2

Rafael disse...

setsuo sensei
que experiencia boa, apesar do taifu.
vivenciar e aprender algo dessa forma é muito válido.
arigatou por compartilhar conosco tal aprendizado. é como se a lição tivesse sido passada adiante, talvez homeopáticamente, mas passada.
arigatou de vdd
boa estada pra vc e mitchan-sensei

Anônimo disse...

Caramba Tsun,
Não imaginava que você era do Nankai tb.... ficamos sabendo de tudo que aconteceu, da palestra do Daikaityo, que voces ficaram ilhados...
Realmente o que você comentou é fato: o povo japonês tem essa força de se reerguer diante de situações adversas.
Parabéns pelo seu lindo trabalho com o Taiko. Um dia desses aparecerei no seu studio para um workshop...
Um grande abraço.
NORBERTO.

Postar um comentário